terça-feira, 20 de outubro de 2009

Uma simples resposta a Saramago, porque ele merece...

Pretendo com este texto, apenas "triturar" as palavras assombrosas de alguém revoltado consigo mesmo, e expor a minha humilde opinião


Sobre o livro Caim, que é apresentado hoje a nível mundial, o escritor defendeu que “na Igreja Católica não vai causar problemas porque os católicos não lêem a Bíblia". Mas admitiu que poderá gerar reacções entre os judeus.


Acho curioso, que um comunista obviamente ateu, afirme que os católicos não lêem a Bíblia. Gostaria de saber onde este escritor iluminado pela luz da sua verdade única, foi buscar tal informação...

“A Bíblia passou mil anos, dezenas de gerações, a ser escrita, mas sempre sob a dominante de um Deus cruel, invejoso e insuportável. É uma loucura!”, criticou, em Penafiel, numa entrevista à agência Lusa, o Nobel da Literatura de 1998, para quem não existe nada de divino na Bíblia, nem no Corão.

Apenas devo dizer que o escritor não deve ter lido algumas páginas do novo testamento, talvez as tenha rasgado antes de tempo...

“O Corão, que foi escrito só em 30 anos, é a mesma coisa. Imaginar que o Corão e a Bíblia são de inspiração divina? Francamente! Como? Que canal de comunicação tinham Maomé ou os redactores da Bíblia com Deus, que lhes dizia ao ouvido o que deviam escrever? É absurdo. Nós somos manipulados e enganados desde que nascemos!” afirmou.

Quanto ao Corão não me vou pronunciar, uma vez que nada conheço dele. Vou antes comentar esta critica fora de prazo em relação à Bíblia. Neste pequeno parágrafa existem, a meu ver diversas ideias dispersas que devem ser aprofundadas. Primeiro, e no que diz respeito à forma de redacção da Bíblia, é óbvio que para um ateu, a palavra divina não passa de uma mera ilusão, de uma "manipulação". Resta apenas "rezar" para que os ateus venham a entender que Deus é transcendente e omnipotente, e que por isso não podemos racionalizar a ideia de Deus. Apenas aqueles que trabalham sobre o divino e que o procuram podem entender toda esta "questão".
Existe outra ideia, que é da teoria da conspiração, "nós somos manipulados e enganados desde que nascemos". Em parte devo concordar com o prémio Nobel da Literatura, e mas essa manipulação em nada tem que ver com a religião mas sim com a busca do poder e do controle do ser Humano. O próprio Saramago exerce essa manipulação quando afirma a todas as pessoas, que Deus não existe, que a Bíblia é um manual de maus costumes, etc. Pois ao fazê-lo, cria uma ideia pré-concebida às pessoas, inibindo-as de pensar por si, levando-as a aceitar uma verdade de outro. Ora esta manipulação vem de longe e não irá parar. Será que os poderes políticos não manipulam os povos? e as empresas petrolíferas? e as farmacêuticas...

Saramago sublinhou que “as guerras de religião estão na História, sabemos a tragédia que foram”. E considerou que as Cruzadas são um crime do Cristianismo, porque morreram milhares e milhares de pessoas, culpados e inocentes, ao abrigo da palavra de ordem "Deus o quer", tal como acontece hoje com a Jihad (Guerra Santa). Saramago lamenta que todo esse “horror” tenha feito em nome de “um Deus que não existe, nunca ninguém o viu”.

É claro que ninguem pode concordar com massacres como as cruzadas a inquisição, e muitos outros que ocorreram em nome de Deus. Mas agora pergunto eu, se eu matar em nome de alguém esse alguém é culpado por isso? Mais uma vez tem que se separar o desejo de poder do ser humano, da pureza divina.
Quando Saramago diz que Deus não existe porque ninguém o viu, dá uma justificação patética e ignorante, que acaba por lado desvalorizar toda esta crítica. Ora se tudo aquilo que não vemos não existe, temos de rever todos os nossos padrões de vida. Ninguém vê o amor, o vento, o calor e o frio, o medo, a energia quântica, os átomos, ninguém vê (em circunstâncias habituais) outros planetas ou galáxias, no entanto tudo isto existe, ou não? Gostaria de pedir ao Saramago, em nome da peso que ostenta na literatura e cultura mundial, que comece a refletir um pouco antes de fazer estas afirmações.

“O teólogo Hans Kung disse sobre isto uma frase que considero definitiva, que as religiões nunca serviram para aproximar os seres humanos uns dos outros. Só isto basta para acabar com isso de Deus”, afirmou.

Estou certo que o teólogo Hans Kung se tenha baseado em algo para dizer o que disse, mas certamente que lhe escapou algo. Primeiro para afirmar tal coisa, temos de considerar todas as religiões existentes no mundo (e existem muitas), durante toda a História deste planeta (que é enorme). A partir do momento em que isto não é feito, há um sério risco que cair no erro ignorante.
Vou então partir que Hans Kung, teve em conta estes dois aspectos. Então posso afirmar que Hans Kung está errado, pois baseando-me em algumas escrituras (mesmo que dúbias é a única coisa na qual nos podemos basear), durante toda a História da civilização mundial, existiram períodos de unificação e de "promoção" da paz. Um caso que poderá não ser claro mas em que isso acontece é o da vida de Cristo. Por um lado Jesus corta com a Igreja Judaica e cria por isso "uma guerra", por outro Jesus une as pessoas em nome da fé através de uma moral que, pensava eu, é aceitavél a todos. Sabemos hoje que pelo menos há uma pessoa no mundo que acha mau costume, ajudar o próximo, ser fiel e leal, ser humilde, etc.
Na china por exemplo, existem escrituras que descrevem, no período mítico, a estabilidade social, por meio de uma série príncipios que não vou desenvolver por não interessar para esta exposição de ideias.

O escritor criticou também o conceito de inferno: "No Catolicismo os pecados são castigados com o inferno eterno. Isto é completamente idiota!”.

Mais uma vez o escritor não pode entender o conceito de inferno nem de paraíso se não afirma que Deus não existe. Como é que ele perde tempo para condenar o conceito de inferno, se Deus e a via divina não fazem qualquer sentido...
Neste aspecto vou dar a minha opinião pessoal sem tentar ferir terceiros. Eu interpreto o inferno e o paraíso como sentidos figurativos, assim como o Karma e o Dharma. Classifica-se a aproximação ao inferno, uma vida que fuja à moral cristã, por outro lado aquele que cumpre a moral cristã de uma forma profunda, aproxima-se do paraíso. Na minha opinião o "inferno eterno" apenas existe para o não crente, nunca como uma forma punitiva mas sim porque se o indivíduo não acredita em Deus (a sua essência), não irá percorrer o caminho divino e por isso nunca chegará ao paraíso (iluminação para os Budistas e Taoistas) ficará apenas no inferno (vida mundana, onde todos nos encontramos, reencarnando sucessivamente nesta dimensão)

É claro que a Igreja; que não é Deus, é apenas o telejornal religioso; muitas vezes "puxa a brasa às suas sardinhas". Mais uma vez cedendo à tentação do poder e da manipulação falada pelo escritor. Por isso muitas das coisas defendidas hoje pelas igrejas em geral, são descabidas, cabe a cada um filtrar a informação que é passada e ter em conta que todo o ser humano é falível. Ora a Igreja é regida por seres humanos...

“Nós, os humanos somos muito mais misericordiosos. Quando alguém comete um delito vai cinco, dez ou 15 anos para a prisão e depois é reintegrado na sociedade, se quer”, disse.

"Nós, os humanos" Gostava que o escritor aprofundasse mais isto do que é ser humano... Agora quando afirma "somos MUITO mais misericordiosos", quase que me dá vontade de rir, não fossem todas essas mortes que ele falou em nome da religião (feita por esses mesmos humanos de que fala) e todas as outras em nome do capitalismo, ou dos idealismos comunistas ou fascistas, etc.
Mais ainda: "Quando alguém comete um delito vai cinco, dez ou 15 anos para a prisão e depois é reintegrado na sociedade, se quer." Em primeiro lugar ir para a prisão não é um castigo, uma punição? preocupa-me o número de contradições que um escritor "ilustre" por fazer num tão curto texto. Outra coisa, o que é que os prisioneiros fazem no interior das prisões? Por acaso, são ensinados a comportarem-se de outra forma, a respeitarem a sociedade? Que eu saiba o "tratamento" é lá ficarem todos ao molho durante x anos até que, e aqui sim por obra divina, saiam curados. Ora aqui Saramago já é crente, pois acredita que um prisioneiro sem qualquer tipo de ajuda e fechado numa fábrica de crime, pode sair melhor.
Outra coisa ridícula e que me deixa chocado, é que uma pessoa que supostamente vive do pensamento, nunca tenha interpretado a estatistica do crime. A grande maioria dos prisioneiros é reincidente. Ups, afinal não funciona! Outra ideia gira e um pouco romântica, digna de um escritor "e depois é reintegrado na sociedade, se quer”. Esta é muito irónica. É claro que o escritor deixa a salvaguarda dizendo "se quizer". Pois como é óbvio muitos ex-presidiários não pretendem integrar-se na sociedade. Querem apenas andar a fazer trafulhices arriscando a sua vida e as da sua família. E também é claro que toda a sociedade em geral aceita de braços abertos todo e qualquer ex-criminoso.
Nesta parte julgo haver alguma esquizofrenia no discurso, pois por um lado a moral cristã é boa (pois se ajudarmos o próximo, é claro que vamos apoiar e ajudar um ex-criminoso)ao contrário do que afirma, por outro mostra-se totalmente alheio à realidade mundana que mostra, todos os dias, o fiasco do nosso sistema penal (a origem etimológica da palavra "pena", do latim poena, significa castigo, suplício).

“Mas há coisas muito mais idiotas, por exemplo: antes, na criação do Universo, Deus não fez nada. Depois, decidiu criar o Universo, não se sabe porquê, nem para quê. Fê-lo em seis dias, apenas seis dias. Descansou ao sétimo. Até hoje! Nunca mais fez nada! Isto tem algum sentido?”, perguntou.

Quase que nem merece comentário, mas pelo sim pelo não...
"antes, na criação do Universo, Deus não fez nada". Bom ora o que é isto do não fazer nada? Para isso é necessário entender o caminho divino, mais uma vez é, em primeiro lugar, necessário ser-se crente para poder entender o que é isto do não fazer nada. Talvez seja mais simples dizer que antes éra a unidade, agora é a multiplicidade. O objetivo de qualquer crente profundo é o que buscar a união.
O facto de criar o mundo em seis dias e descansar ao sétimo, tem mais uma vez, um sentido metafórico, que para Saramago, assumo que pareça idiota. Esta explicação deveria ser feita por um teólogo , por nunca me debrucei sobre tal explicação, por não achar essencial ao meu e ao de outros, percurso divino.
Em relação ao "nunca mais fez nada", diria, pois se ele não existe? logo nada pode fazer. Mas mais uma vez Saramago revela uma fé profunda que se assume como uma relação de ódio por não entender ou por querer entender (através da razão) Deus.
Será que nunca mais fez nada? Bem sei que para Saramago só aquilo que é vísivel é que existe. Mas qualquer crente sabe que Deus está em tudo. Ora como é que a Terra é autosustentável, mesmo com todos os nossos comportamentos incorretos, como é que o o Sol continua a iluminar o nosso planeta, etc. se Saramago lesse, estou certo que iria dizer "Idiota! as leis da física comprovam isso". Apenas posso responder que Deus está presente em tudo mesmo que não acreditemos. E não é por alguns na História, se terem aproveitado da Fé das pessoas para adquirirem alguns benefícios, que Deus deixa de existir. A Fé é pessoal e cada um deve descobri-la por si mesmo. Espero que Saramago encontra a sua.
Outra coisa há coisas que não são feitas para fazer sentido. Faz sentido o planeta andar à milhares de anos à volta do Sol? que flirt tão entediante... Faz sentido as moscas andarem-nos a chatear mesmo sabendo que mais tarde ou mais cedo as vamos esmagar com os nossos mata-moscas?. Pois, mas tudo isto e muito mais acontece, fazendo lógica ou não. O que é certo é que tudo aquilo que transcende a nossa consciência dizemos não fazer sentido. Eu diria que isso é arrogância de alguém que não sabe mas mesmo assim quer comentar.

“Deus só existe na nossa cabeça, é o único lugar em que nós podemos confrontar-nos com a ideia de Deus. É isso que tenho feito, na parte que me toca”.

Quase que concordo com Saramago, mas quando este afirma que Deus SÓ existe na nossa cabeça, não o posso fazer. Pois Deus existe em todo o lado. Agora, creio que para o reencontrarmos, só o podemos fazer através de nós mesmos, do nosso interior explorando a nossa mente, desenvolvendo o amor compassivo e despretencioso que todos temos, é que é simbolizado pelo Coração. Por outro lado este caminho não é um confronto (palavra que se justifica pela corrente política do escritor), mas mais um reencontro. Mais uma coisa Deus não é uma ideia, Deus é!